A indústria da construção civil tem passado por uma grande mudança no que refere a seus métodos e práticas de construção. A partir do uso da tecnologia, o setor vem registrando melhorias significativas na segurança, eficiência e qualidade do trabalho.

Mas o que o futuro reserva para construtoras e incorporadoras? Quais ferramentas podem ajudar as empresas a gerarem melhores resultados? E de que forma?

Este foi o tema de mais um Hinc Talks e, neste post, vamos ver os destaques desta conversa. Acompanhe!

Assista: Tendências e Inovações na Construção: Como as tecnologias estão mudando a Indústria da Construção

Desafios para se tornar a incorporadora do futuro

Frente ao futuro, um dos maiores desafios das empresas da construção civil se refere à dificuldade de criar ou adaptar processos ao adotar soluções digitais. 

Quando construtoras e incorporadoras não conseguem estruturar seus processos de forma adequada, o investimento em tecnologia pode não trazer o resultado esperado, gerando, inclusive, frustração na equipe.

Mas, vale destacar, o investimento em tecnologia não pode vir isolado de uma estratégia. Com diversas soluções disponíveis no mercado, é preciso entender o papel de cada uma delas nas rotinas do negócio e, mais importante, como integrá-las em uma estratégia.

“Diante de tantas possibilidades, falta para as empresas a visão dos processos para usar tudo isso. Não adianta contratar uma ferramenta, se eu não sei o que vou fazer com ela, se eu não mudo meus processos. É importante pensar sempre nos processos para, aí sim, chegar no resultado final”, diz Carla Bedin, Diretora de Projetos da Otus Engenharia.

E isso se reflete em outro obstáculo: a falta de integração entre as soluções digitais adotadas. Sem uma comunicação que permeia todas soluções utilizadas, surgem impactos negativos, como falta de dados precisos para tomada de decisão, problemas de comunicação e desperdício de tempo e de recursos.

“Ter um sistema que me traga uma visibilidade de onde estou para dar os passos conectados com olhar para o futuro – seja no projeto, no planejamento, na gestão de custos – vai dar mais clareza de onde devo concentrar meus esforços para ter mais resultados. Não é inovação pela inovação”, enfatiza Paula Lunardelli, CEO da Prevision.

Outro desafio a ser enfrentado é o isolamento das informações. Na construção civil brasileira, ainda não existe uma cultura de troca e compartilhamento de conhecimento.

Muitas empresas guardam seus sucessos como grandes segredos. A questão é que a troca tem o potencial de ser muito mais vantajoso para todos os players do setor, em um ciclo de melhoria constante, em que um conhecimento agrega ao outro.

E essa integração passa pela criação de um ecossistema da construção civil, que permita às construtoras, incorporadoras e outras empresas interagirem e compartilhar conhecimentos.

Nesse sentido, é importante a criação de uma base de dados comum para o setor. E isso passa pela tecnologia.

“Quando temos um modelo digital e vão se agregando informações de diversas camadas, inclusive do ecossistema – logística, preço, outras construtoras de outros lugares -, conseguimos transformar isso em insights. Integrar as tecnologias e conectar os agentes da construção tornará o nosso ecossistema em um ambiente vivo”, enfatiza Rodrigo Koerich, CPO da Altoqi

Tendências para colocar em prática na construção civil em 2024

Se, por um lado, a integração das soluções é importante, por outro, isso não significa que soluções que resolvem questões pontuais devam ser abandonadas.

Nesse mesmo sentido, muitas empresas da construção civil concentram seus investimentos em tecnologia em soluções voltadas para o canteiro de obras. No entanto, é fundamental contar com ferramentas para auxiliar nas etapas relacionadas ao planejamento e ao projeto.

E quando falamos do futuro da construção civil, é importante deixar claro que não se trata apenas de tecnologias. Elas são apenas um fator neste caminho, existem muitas outras variáveis.

Para que essa integração do setor se torne realidade, um dos processos fundamentais é garantir que as empresas tenham dados do mercado que ajudem os gestores a tomar decisões. Mas, para isso, os empreendimentos precisam se digitalizar.

E esse futuro digital da construção vai passar pela mudança de mindset das pessoas. “Essa digitalização vai mudar tanto o paradigma de modelo de negócio, que quem tiver fora vai simplesmente sumir do mercado”, alerta Rodrigo.

Com isso em mente, destacamos as principais tendências e inovações para o futuro da construção civil:

BIM como primeiro passo

A construção civil deve ser entendida como uma indústria. Mais do que isso, é preciso enxergar que ainda se trata de uma indústria analógica. Quando falamos do futuro do setor, tratamos, invariavelmente, de transformação digital. E a porta de entrada para essa transformação é o BIM.

“Só existe uma forma de digitalizar o processo de construção, que a partir do momento em que saímos do papel e das planilhas e transformamos essas informações em dados consolidados no modelo BIM”, destaca Rodrigo.

E este ponto é fundamental. Já existem inúmeras tecnologias que podem ser aplicadas na construção civil – inteligência artificial, blockchain, computação em nuvem, Internet das Coisas etc. No entanto, enquanto essa indústria continuar a ser analógica, a aplicação dessas tecnologia é inviável.

Então, o primeiro passo é transformar as informações em posse das empresas em ativos digitais 3D repleto de dados. E, para isso, o BIM é essencial.

Inteligência aplicada à simulação de planejamento

A construção civil precisa dar um passo à frente para se desprender dos métodos do passado. Paula fala da necessidade de se livrar de processos meramente operacionais e desnecessários. 

“O que, de verdade, eu preciso da interação do ser humano em um planejamento e na tomada de decisão, e o que podemos transformar digitalmente?”, ela questiona.

A grande virada é a otimização do planejamento. Com ferramentas, templates e tanto conhecimento disponível, é possível democratizar este processo. A ideia, portanto, é deixar a tecnologia a cargo das questões operacionais, focando o trabalho humano na parte estratégica.

“Você é uma pessoa que executa atividades operacionais ou é a inteligência que está sendo aplicada no processo? Tudo o que é operacional, a inteligência vai suprir. Então, para o futuro, mais inteligência, menos operação”, provoca.

Tecnologias que conectem todas as etapas

O método de construção tradicional esconde muitos dos problemas de um projeto. E isso ficou ainda mais claro com o BIM. Frente a isso, é importante conectar todas as fases do projeto, da concepção à execução. Mas essa ainda não é a realidade do setor.

“Eu preciso que o orçamento seja parte do meu processo de projeto, e não uma tarefa que será feita adiante, depois de várias decisões terem sido tomadas”, afirma Rodrigo.

Para ele, na nova realidade da construção, a tomada de decisão deve ser feita ao longo da concepção de um empreendimento. “O que nos impede de, durante o estudo de viabilidade, já começar a fazer análises – de custos, de execução, de planejamento? É a falta de integração das tecnologias”, destaca.

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Novos métodos construtivos

O canteiro de obras também deve fazer parte dessa transformação do setor da construção civil. “Estamos evoluindo muito em questão de tecnologia, mas precisamos mudar muitos os métodos construtivos. Não adianta termos um projeto maravilhoso, super digital, se ainda usamos os métodos que usávamos antes”, diz Carla.

Isso está relacionado à necessidade de se industrializar os processos para potencializar as informações e os projetos e dar mais previsibilidade às empresas. “O maior custo não está no projeto, está na obra. Se não mexermos na forma como construímos, vai ser muito difícil gerar todo esse resultado com a tecnologia”, complementa Paula.

Uso de dados para tomada de decisão

A criação de uma base de dados comum para o setor é fundamental para permitir uma tomada de decisão mais embasada. “O que vamos ver nos próximos poucos anos é o fato de que vamos tomar uma decisão usando tecnologias que trazem insights de outras empresas”, comenta Rodrigo.

Essa troca de informações, quando existe, ainda é muito analógica. Em breve, porém, tecnologias como a IA vão permitir uma maior integração de informações, munindo construtoras e incorporadoras de dados relevantes para orientar suas decisões. Trata-se, em outras palavras, de criar uma cultura data-driven, em que essas informações têm papel central.

Se, como diz o clichê, dados são o novo petróleo, a transformação pela qual o setor da construção civil vai passar se refere à gestão dessas informações. À medida que as empresas conseguem transformá-las em negócios, aí sim elas farão parte deste futuro.

E isso passa pela integração, por juntar as empresas desse ecossistema e, principalmente, por entender que o problema não é a tecnologia.

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