Liderança feminina: o impacto das mulheres na construção civil


Liderança feminina: o impacto das mulheres na construção civil

A construção civil ainda é um setor amplamente dominado pelos homens. Mas, aos poucos, isso vem mudando e a presença de mulheres, especialmente em cargos de liderança, traz novas perspectivas – e resultados – para construtoras e incorporadoras.

A seguir, vamos entender o contexto das mulheres na construção civil e como a liderança feminina impacta o setor. Acompanhe!

Baixe agora: Infográfico | Tipos de liderança na construção civil

O impacto das mulheres na construção civil

De acordo com dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), apenas 20% dos profissionais registrados no sistema são mulheres. Apesar do número pequeno, felizmente, elas vêm ganhando espaço na construção civil.

As últimas informações disponíveis do Painel da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho, mostram que, entre 2019 e 2021, houve aumento da participação das mulheres na força de trabalho do setor: de 10,3% para 10,8%. Somente em 2021, houve um crescimento de 16%.

Outros levantamentos corroboram essa expansão. O Boletim Econômico da Construção Civil informa que, entre 2012 e 2021, o número de mulheres na construção civil cresceu 52,3%. Entre janeiro e maio de 2023, por exemplo, foram contratadas mais mulheres do que homens.

As mulheres ocupam os mais diferentes cargos na construção civil. Dos escritórios de engenharia à indústrias, passando também pelo canteiro de obras, a presença da mão de obra feminina aumenta em todas as atividades do setor.

Letícia Arruda, Líder de Sucesso do Cliente na NPU, conhece as duas pontas dentro da construção civil: na execução dos projetos e no escritório. Ela destaca o crescimento do número de mulheres no canteiro de obras nos últimos anos.

“Quando eu iniciei, há uns nove anos, todas as mulheres eram auxiliares ou estagiárias. Atualmente, já tenho muitas amigas que gerenciam obras, que são engenheiras, que são gerentes de construtoras. Eu vi uma crescente muito forte do movimento feminino dentro do canteiro de obras”, diz.

No Brasil, existem algumas iniciativas que visam incentivar a contratação de mulheres neste segmento. Um dos marcos mais importante foi o Programa Mulheres Construindo Autonomia na Construção Civil, criado em 2012 pelo governo federal.

O projeto focava na formação de mulheres de baixa renda para inseri-las no mercado de trabalho e foi um dos motivos do crescimento da presença feminina no setor.

Atualmente, o projeto Elas Constroem, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), busca fortalecer a presença feminina no setor – seja por meio da inserção de mais mulheres, seja por meio do aprimoramento das habilidades daquelas que já atuam na construção.

Para isso, são oferecidos cursos de capacitação e formação em diferentes áreas, desde pintura a gerenciamento financeiro, oferecendo novas oportunidades de trabalho e progressão na carreira.

Existem outras iniciativas em outras esferas. No Paraná, por exemplo, a cidade de Guarapuava instituiu, em 2018, que as empresas da construção civil tenham ao menos 10% das vagas ocupadas por mulheres.

Saindo do âmbito específico deste setor, o Programa Emprega + Mulheres, criado em 2022 pelo governo federal, é “destinado à inserção e à manutenção de mulheres no mercado de trabalho”. 

Como a liderança feminina contribui no desenvolvimento da indústria da construção?

Trazer mais mulheres para a construção civil não é benéfico apenas do ponto de vista da representatividade. Equipes diversas tendem a trazer melhores resultados. Isso é fruto da maior pluralidade de histórias, experiências e visões de mundo, o que ajuda a encontrar diferentes soluções.

A liderança feminina na construção civil traz novos olhares, muitas vezes observando aspectos que, por uma série de fatores, passam despercebidos pelos homens.

Maristela Paes Leme é COO do Hinc e traz a perspectiva feminina sobre as mudanças que ocorreram desde que entrou neste setor, há 25 anos. “Quando eu comecei a trabalhar diretamente com essa indústria, vinda do agronegócio, eu senti a diferença e uma enorme possibilidade de desenvolvimento da indústria da construção. E olhando para trás, percebo o quanto ela avançou em todos os sentidos”, comenta.

Ela reconhece que, embora a construção civil já tenha caminhado muito, tem muito a ser feito: “Tem caminhos de desenvolvimento ainda, tanto na parte do desenvolvimento do BIM, construções sustentáveis, quanto no processo de transformação digital. E participar de tudo isso é muito gratificante”, complementa.

É claro que ainda há muito para se caminhar. O dia a dia das mulheres em cargos de liderança na construção civil ainda é permeado por muitos problemas. O preconceito, o assédio e a falta de oportunidades ainda são muito presentes, além da jornada dupla que muitas enfrentam.

As mulheres também costumam ser mais cobradas; isso quando não sofrem com a desigualdade salarial. Um exemplo: dados do Banco Nacional de Empregos (BNE) indicam que, para o cargo de engenheiro civil, a diferença entre os salários de homens e mulheres chega a 38,6%.

E a escassez de liderança feminina no setor gera um efeito bola de neve, pois faltam modelos nos quais as trabalhadoras possam se inspirar. Essa realidade acaba afetando o interesse de muitas mulheres em trabalhar na construção civil.

Letícia passou por isso. Em seu último projeto, ela era a única mulher em meio a uma equipe com 250 pessoas. Embora nunca tenha sofrido pessoalmente com o preconceito, ela diz que essa realidade torna o dia a dia bastante desafiador.

“Isso exige muito da gente, exige uma postura de estar sempre mais fechada. A mulher no canteiro de obras não pode dar muita risadinha e não pode ficar muito amistosa, porque a gente precisa se impor e mostrar que a gente consegue, que conseguiu”.

Ela ressalta, porém, que, no escritório, a situação é um pouco melhor. “É uma mistura muito maior de conhecimento, são pessoas com mesma escolaridade. E isso ajuda muito as mulheres a mostrarem sua competência”.

Assista: [Hora do Líder] Times de Alta Performance e Confiança – Maristela Paes Leme

Habilidades essenciais para líderes na construção civil

A presença feminina em cargos de liderança na construção civil colabora, como vimos, para a maior diversidade e equilíbrio de gênero nas empresas.

Partindo de uma perspectiva macro, isso é fundamental para mudar as dinâmicas de poder e criar ambientes de trabalho mais inclusivos e justos.

Mas os impactos vão além. Um estudo da McKinsey & Company mostrou que as empresas com maior diversidade de gênero nos cargos de liderança têm probabilidades 21% maiores de superar a concorrência.

Isso posto, algumas habilidades e competência são essenciais para os líderes neste setor. Destacamos:

Equilíbrio entre metas e pessoas

A boa liderança é aquela que nunca perde de vista a questão humana. Afinal, seu trabalho primordial é lidar com pessoas e extrair delas o seu melhor.

E isso exige uma série de capacidades, em especial a empatia e a construção de uma relação de confiança (que não é sinônimo de proximidade pessoal, vale destacar).

Esse trato pessoal deve ser feito sempre com as metas das empresas no horizonte. Isto é, a liderança na construção civil deve saber incentivar e motivar suas equipes para conseguir alcançar os objetivos propostos no prazo planejado.

Trata-se, portanto, de equilibrar as exigências profissionais com as capacidades e necessidades pessoais de cada trabalhador.

Boa comunicação

Na esteira do tópico anterior, outra habilidade fundamental para líderes da construção civil é a comunicação. Toda liderança precisa ser compreendida. A mensagem precisa ser clara para que se tenha a certeza de que todos estão remando na mesma direção.

Uma boa comunicação, vale ressaltar, não se resume a delegar. A liderança deve ser capaz de transmitir conhecimento, orientar sua equipe e tirar todas as dúvidas. Por isso mesmo, saber dar e receber feedback é fundamental.

Estímulo ao desenvolvimento

Mecanismos como o feedback devem servir como uma forma de incentivar o aprimoramento dos profissionais. Mas é preciso ir além: workshops, palestras e cursos ajudam na capacitação e melhoria das habilidades e conhecimentos da equipe.

Essa é uma preocupação constante, algo que deve ser feito de tempos em tempos, e não de maneira isolada. A equipe precisa estar atualizada em relação às tendências e novidades que impactam seu trabalho.

Qual a importância de um bom líder? Quais são as skills que ele deve possuir? Como desenvolvê-las? Baixe o guia Como desenvolver 10 habilidades de liderança na construção civil e saiba mais!